Resumo |
Polimorfismos nos genes que codificam enzimas metabolizadoras de fármacos variam consideravelmente entre diferentes grupos étnicos. Em populações miscigenadas como as latino-americanas, o conhecimento de características farmacogenéticas de diferentes grupos étnicos pode ser relevante para a implementação de estratégias terapêuticas adaptadas a eles. O objetivo desta tese é verificar a ancestralidade e a frequência das variantes de interesse farmacogenético em populações latino-americanas, visando esclarecer os padrões destas frequências na América Latina. A partir de dois estudos de miscigenação em populações brasileiras inseridas no projeto EPIGEN, concluímos que as coortes do Sudeste/Sul são predominantemente europeias (do norte Europeu/Oriente Médio) e menos africanas (do centro-leste da África), enquanto a coorte do Nordeste possui prevalência de ancestralidade africana (do centro-leste da África) e menos europeia (da Península Ibérica). Além disso, encontramos que há correlação entre ancestralidade genômica e etnia autodeclarada em brasileiros. Para a caracterização de frequências das principais variantes de interesse farmacogenético em populações mundiais, apresentamos três revisões sistemáticas considerando genes CYP2D6, CYP2C9 e CYP2C19 constatando que existem padrões mundiais na distribuição de frequências alélicas. No contexto da América Latina, apresentamos uma revisão sistemática de 121 biomarcadores farmacogenéticos no Brasil, verificando que padrões nesta população são complexos devido a sua complexa história demográfica. Além disso, apresentamos um estudo com dados originais da Rede Iberoamericana de Farmacogenética, particularmente na Costa Rica, mostrando uma correlação significativa entre ancestralidade genômica e CYPs em três populações deste país. Adicionalmente, a partir de um admixture mapping que associa ancestralidade ameríndia com risco aumentado para recidiva em leucemia linfoide aguda devido a dois SNPs, verificamos que esta região genômica está diferenciada em populações latino-americanas, especialmente em nativos. Portanto, em um contexto populacional e epidemiológico, as informações de cor/raça e ancestralidade genômica são informativas para inferências farmacogenéticas. No entanto, para aplicação clínica da farmacogenética em latino-americanos, a genotipagem individualizada deve ser realizada pois a resposta não pode ser predita pela ancestralidade. |